O filme A Favorita (2018) conta a história da Rainha da Grã-Bretanha, Anne (Olivia Colman), e de sua relação com a amiga de infância, a Duquesa de Marlborough, Sarah Churchill (Rachel Weisz), e com a criada, Abigail Masham (Emma Stone). O filme foi baseado na história real da rainha Anne, no entanto nem tudo é verídico.
A trama se passa durante a Guerra da Sucessão Espanhola, que durou de 1702 a 1713, e foi um conflito entre a Grã-Bretanha e a França para ver quem deveria assumir o trono espanhol.
Os britânicos não queriam que a Coroa Espanhola colocasse o neto de Luís XIV da França, Filipe V de Espanha, como rei, pois eles temiam que Filipe fosse controlado pela França e que a Espanha fosse governada por um membro da família real francesa.
John Churchill (Mark Gatiss), duque de Marlbrough, havia prometido a Rainha que conseguiria vitória em um ano, no entanto vários anos se passaram e nada de conseguir encerrar o conflito.
Dessa forma a Rainha Anne e Robert Harley (Nicholas Hoult), I Conde de Oxford e Mortimer, fizeram um acordo secreto com os franceses e assinaram um tratado em 1713. A guerra terminou sem vencedores e Filipe foi denominado rei da Espanha, por imposição de Luís XIV.
A Grã-Bretanha ganhou alguns benefícios com esse acordo, como a ilha balear de Menorca, permissão para comercializar de forma ilimitada com as colônias da América por meio dos “navios de permissão”, e além disso, o direito de vender escravos nas colônias americanas por trinta anos.
Durante o filme, fica bem claro que quem governa indiretamente é a Lady Sarah, já que a Rainha é retratada como alguém que não sabe tomar as melhores decisões para o seu governo. No entanto, esta é uma ideia equivocada de quem de fato foi a Rainha Anne, visto que não há indícios de que ela era tão frágil quanto o longa demonstra.
No reinado de Anne ocorreu a unificação da Escócia e da Inglaterra, o que a transformou na primeira rainha da Grã-Bretanha da história, e também houve o desenvolvimento do sistema bipartidário, que vigora até hoje na política britânica.
Basicamente, o governo funcionava a partir de dois partidos: os conservadores tories e os liberais whigs. Por ser anglicana, Anne apoiava os tories, que eram a favor da “propriedade territorial” da pequena nobreza do país, enquanto os whigs tinham interesses comerciais aliados com os protestantes.
Por ter a confiança e a amizade da Rainha, Sarah era encarregada de cuidar da propriedade, vida pessoal e das finanças de Anne, no entanto a duquesa era uma whig. Dessa forma, Sarah se utilizou da sua influência para persuadir a Rainha durante a Guerra de Sucessão Espanhola para defender seus interesses como whig.
Sarah é aconselhada pelo duque de Marlborough e por Sidney (James Smith), conde de Godolphin, a amedrontar a Rainha com conversas. Por mais que a duquesa não tenha conseguido fazer isso, a Rainha percebeu suas intenções e decidiu não envolver mais política na sua relação com Lady Sarah.
Isso abalou a amizade das duas, e então Abigail se aproveita da situação para de aproximar cada vez mais da Rainha. Anne logo simpatizou com a criada, que tinha os mesmos interesses políticos que ela, o que não agradou Lady Sarah. Assim surgiu essa ideia de que Anne era facilmente manipulada. No entanto, Anne foi uma rainha determinada, que trabalhou duro em seu governo e foi extremamente importante para a monarquia britânica.
Em parte, a imagem de uma mulher manipulável, dura e rude, que a Rainha Anne tem, se deve a vingança de Sarah após os conflitos com a monarca. No entanto Anne era reservada e educada, uma imagem bem diferente da apresentada no filme.
Outro fato que é contraditório é o triângulo amoroso homossexual que é apresentado na obra, em que a disputa entre “as favoritas” pelo poder era tão grande que ambas tiveram um caso com a Rainha. Contudo, não há provas de que esses romances de fato ocorreram, mas devido às circunstâncias da época, essa possibilidade também não pode ser negada.
Além disso, no filme Anne tem um coelho para cada uma das 17 gestações que ela teve, e em todas elas nenhum filho conseguiu chegar à idade adulta, mas esse fato também não foi comprovado.
O filme A Favorita é uma bela lição de história que mostra a força do governo feminino da Rainha Anne, mesmo que influenciado por suas favoritas.
Mariana Oliveira
0 comentários:
Postar um comentário