A animação Os Incríveis foi lançada em abril de 2005 nos cinemas brasileiros e é a representação da união da Walt Disney com o estúdio Pixar. A história roda entorno de uma família de super-heróis “aposentados”. Por causa da crise econômica do Estado, as autoridades forçaram os super-heróis a viverem com como pessoas “normais” . No começo do filme, parece ser uma família patriarcal como as outras: o pai, Beto Pêra, é o provedor financeiro da família, enquanto a mãe, Helena Pêra, é o símbolo da mulher difundida no sistema patriarcal. Uma mulher elástica, que se desdobra em várias atividades: cuidar da casa, educar os filhos, cuidar do marido, entre outras atividades.
Apesar
do filme se passar em 1962, durante o início da Segunda Onda do feminismo, a semelhança com parte das famílias
atuais é gigantesca. Enquanto o pai
trabalha fora, a mãe fica em casa cuidando dos filhos, da casa e do marido. O sistema patriarcal, apesar de muito antigo,
ainda é muito frequente Os dados da primeira pesquisa que mede a tolerância da
sociedade brasileira em relaçâo à violência contra a mulher, feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e
divulgada em 2014, mostra que o pai ainda é visto como chefe da família e a
esposa deve se comportar segundo o papel prescrito. Falando em Família e Casamento, por exemplo:
- 63,8% das/os entrevistadas/os concordam totalmente ou em parte com a frase “os homens devem ser a cabeça do lar”
- 78,7% acreditam que “toda mulher sonha em se casar”.
- 59,5% concordam que “uma mulher só se sente realizada quando tem filhos”.
- 33,6% dos respondentes concorda ou se mantém neutra sobre a afirmação de que “a mulher casada deve satisfazer o marido na cama, mesmo quando não tem vontade”.
- 54,9% concordam que “tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra cama”.
- 46,2% discordam que “um casal de dois homens vive um amor tão bonito quanto entre um homem e uma mulher”.
- 59% concordam total ou parcialmente com a afirmação de que “incomoda ver dois homens, ou duas mulheres, se beijando na boca em público.”
- 51,7% das pessoas entrevistadas concordam que “o casamento de homem com homem ou de mulher com mulher deve ser proibido”.
Para
Nancy Fraser, autora de Mapeando a imaginação feminista: de
redistribuição ao reconhecimento e à representação, a história da segunda
onda do feminismo é impressionante. “Fomentada pelo radicalismo da Nova Esquerda (New Left), essa onda do
feminismo começou como um dos novos movimentos sociais que desafiaram as
estruturas normatizadoras da social-democracia pós-Segunda Guerra. Originou-se,
em outras palavras, como parte de um esforço maior para transformar o
imaginário político economicista que tinha centrado a atenção em problemas de
distribuição entre as classes. Nessa primeira fase (novos movimentos sociais),
feministas buscaram ampliar o seu imaginário. Ao exporem uma ampla gama
de formas de dominação masculina, feministas sustentaram uma visão expandida da
política que incluísse “o pessoal” ”.
Isso é muito visto no filme, na visão de Helena.No início do filme,
quando passa a história do casal e eles vivendo suas vidas como super-heróis, ela discursa em uma entrevista jornalística: “Sossego, qual é? Tô no auge da forma, em briga de cachorro grande. Garotas, na boa: deixar o mundo ser salvo pelos homens? Claro que não. É claro que não.” Helena não suporta ver Beto trabalhando e ganhando dinheiro para bancar a família e ser a dona de casa. Tanto que, durante o filme, ela vive uma aventura para salvar seu marido junto com seus filhos.
Helena
Pêra é um reflexo da mulher atual, mesmo sendo retratada como se vivesse no
começo dos anos 60. Uma mulher na busca de seus direitos dentro de uma
sociedade extremamente patriarcal. Uma mulher que tem elasticidade para cuidar
de tudo que se trata da família, deixando seu lado profissional um pouco de
lado.Essa realidade está sendo mudadaaos poucos, com o fortalecimento e
crescimento de movimentos feministas, com as redes sociais e a expansão da
internet.
A
influência dos desenhos na infância de crianças é muito grande, principalmente
falando sobre filmes da Disney. Um estudo realizado pela universidade Brigham Young, nos EUA, intitulado
“Pretty as a Princess” (“Bonita como uma princesa”) examinou os efeitos
persuasivos das realezas da Disney sobre as crianças. De acordo com os
pesquisadores, as famosas princesas dos desenhos animados reforçam os
estereótipos de gênero entre as meninas, além de afetarem a autoestima e a
segurança que as crianças têm sobre sua forma física.“Sabemos que as crianças que aderem
fortemente a estereótipos do gênero feminino acreditam que não podem fazer
algumas coisas” — ressalta Sarah Coyne, autora do estudo. “Elas não são tão
confiantes de sua capacidade em ter um bom desempenho em matemática ou ciência.
Não gostam de se sujar, então têm menor propensão a tentar experimentar as
coisas”.
Talvez
a nova geração de feministas que estão se formando já tenha alguma influência
de filmes mais novos como Capitã Marvel, Os Incríveis e A princesa e o sapo -
mostrando mulheres emponderadas, que não precisam de homem para serem fortes
suficientes. A própria Disney procura produzir mais filmes com o protagonismo
feminino, para mudar um pouco as estatísticas, como Moana, Frozen e Valente,por
exemplo. A luta se fornalece e renova de geração em geração. Somos e sempre
seremos resistência.
Beatriz Freitas Vera Cruz
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