O filme é baseado no romance, de mesmo nome, criado por Meg Wolitzer e adaptado para as telas por Jane Anderson. O drama gira em torn...

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Entrevista com Luisa Pécora - A Esposa

    O filme é baseado no romance, de mesmo nome, criado por Meg Wolitzer e adaptado para as telas por Jane Anderson. O drama gira em torno do relacionamento entre Joan Castleman (Glenn Close), que é apresentada como a esposa fiel e enigmática que está sempre pronta para ajudar o marido, e Joe Castleman (Jonathan Pryce), renomado escritor que acaba de receber um Nobel de Literatura. Enquanto Joe é celebrado, Joan é apresentada a uma funcionária do Nobel especializada em cuidar das esposas dos nomeados, para que os maridos possam se preocupar com questões tachadas como masculinas. No entanto, ao longo do filme vamos percebendo que a relação entre eles não é como todos esperavam.
    Para obter mais detalhes, entrevistamos Luísa Pécora, jornalista, criadora e editora do Mulher no Cinema, um site que tem como objetivo a celebração do trabalho das mulheres na tela.


Você acredita que a representatividade da mulher no cinema vem aumentando? Qual o impacto que essa representatividade pode causar na sociedade e na vida das mulheres?

Acho que o que podemos dizer, seguramente, é que nos últimos anos o debate sobre a mulher no cinema tem se tornado mais frequente e mais público, o que é um passo importante. Dizer se a representatividade aumentou é mais difícil, pois toda mudança real leva tempo.

Também é preciso ver o que você está chamando de "representatividade" - seria apenas uma maior quantidade de filmes protagonizados por mulheres ou um protagonismo de maior qualidade? De forma geral, acredito que uma maior presença feminina no cinema, tanto em frente como por trás das câmeras, traz novas perspectivas e histórias para a plateia - tanto mulheres quanto homens. Como o cinema reflete a sociedade, falar sobre igualdade de gênero nas telas é falar sobre transformação social.

Em um cenário repleto de discussões relacionadas a gênero, qual a importância do enredo de A esposa?

A Esposa traz uma discussão importante sobre as mulheres que muitas vezes colocam seus sonhos, ambições e talentos de lado em nome do casamento e/ou da família. É um tema relevante em meio a este momento de questionamento quanto aos papéis atribuídos a cada gênero e também de recuperação de trajetórias de artistas importantes e pouco conhecidas.

Como os personagens, em seus defeitos, qualidades e até mesmo nas ações, conseguem dialogar com a vida real?

Acho que os personagens principais - da Glenn Close e do Jonathan Pryce - dialogam com a vida real no sentido de que esta dinâmica que eles construíram é comum a muitos outros casais. Em outra escala, claro, já que o filme insere um elemento tão grandioso quanto o prêmio Nobel. Mas a dinâmica da mulher que abre mão dela pelo sucesso do marido não está nada fora da realidade.

Você acredita que os personagens de segundo plano são tão importantes para a narrativa como os de primeiro? Por quê?

Considero os personagens coadjuvantes bastante problemáticos no sentido de que fazem a narrativa avançar sem que de fato sejam bem construídos. Tanto o filho quanto o repórter e a fotógrafa são apenas tipos, e não personagens de fato bem construídos. A fotógrafa, aliás, me parece uma personagem feminina tão genérica quanto às da sua primeira pergunta.

O que você achou sobre a narrativa do filme? Para você, a história deveria ter sido mais aprofundada?

Na minha opinião, o filme começa promissor pela premissa e pela oportunidade que ela oferece de refletirmos sobre questões relevantes e verdadeiras. No entanto, o filme vai desperdiçando essa premissa original conforme se torna convencional. Como disse acima, os personagens secundários são bastante clichês, o que me incomoda muito. Depois, há um excesso de explicação - seja por flashbacks ou arroubos de emoção. Me parece que a história é mais interessante no começo, quando as coisas estão mais na esfera do não dito, do subentendido. A minha crítica está aqui, caso precise de mais elementos: http://mulhernocinema.com/criticas/cotada-para-o-oscar-glenn-close-merece-mais-do-que-a-esposa/

O que você acha sobre a relação entre os protagonistas, Joan e Joe Castleman?

Do ponto de vista narrativo, é uma relação interessante porque é complexa: há injustiça e abuso, mas também há amor. Mas, em termos práticos, é uma relação nada saudável, fundada em uma mentira e na qual uma pessoa se submete à outra.

A protagonista parece ser muito fiel e até mesmo submissa ao marido, apesar das traições e discussões. No começo é “explicado” por meio dos flashbacks o porquê ela é assim, mas por que você acha que aquela situação se perpetua?

É difícil ter ideias próprias sobre a motivação da personagem quando o diretor e roteirista já oferece tantas razões e justificativas, deixando pouco espaço para o próprio espectador. É um pouco o que eu quis dizer acima com "excesso de explicações". Acho que o filme ganharia bastante se não tivesse os flashbacks, inclusive.

Geovana Ferreira de Sá

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