Luísa Pécora é jornalista, criadora e editora do site Mulher no Cinema. O portal
Mulher no Cinema tem o propósito de discutir e disseminar o trabalho das
profissionais da indústria cinematográfica, por meio de vídeos, críticas, entrevistas,
notícias e pesquisas sobre o assunto.
O que torna A Favorita diferente de um filme de época tradicional?
É um filme de época não tradicional no sentido de combinar tanto
elementos fiéis à época retratada quando elementos que fogem à esta época. Por
exemplo, ao mesmo tempo em que figurinos e locações são típicos daquele tempo,
os diálogos são em um inglês contemporâneo. Mesmo formalmente, o tipo de
enquadramento e os experimentos com a câmera não são típicos dos filmes de
época. Há, portanto, uma inspiração na realidade, mas não uma grande pretensão
em contar exatamente o que aconteceu.
A história teve um tom diferente por ser protagonizado por três mulheres?
É pouco comum vermos filmes comerciais com três personagens
femininas de tanto destaque e tão bem desenvolvidas. Neste sentido, essa opção
traz, sim, um certo frescor.
O romance central da trama foge do heteronormativo, trazendo o romance
entre três mulheres. Qual a importância dessa representação?
Eu não sei se diria que é um romance entre três mulheres - a palavra
romance sugere afeto, que vejo na personagem da Rachel Weisz pela rainha, mas
talvez não na da Emma Stone. De qualquer forma, há um relacionamento entre elas,
e é importante que o cinema representa as mais diversas formas de relacionamento.
Mas eu diria que, para além da representatividade, é um relacionamento com uma
função narrativa importante, porque interfere na dinâmica entre as três personagens.
Essas idas e vindas da trama, os diferentes sentimentos e emoções envolvidos, o
próprio humor, tudo isso de alguma forma está ligado ao relacionamento delas.
A favorita foi indicado em dez categorias no Oscar, mas Olivia Colman foi a
única a levar a estatueta de Melhor Atriz. Você esperava mais estatuetas para A
Favorita ou acredita que foi uma premiação justa?
Eu acho que o filme merecia mais prêmios, mas não esperava que
isso acontecesse porque há muitos prêmios antes do Oscar que já indicam quem
são os favoritos às estatuetas. Nesse sentido, a única categoria na qual o filme era
tido como favorito era roteiro original. Infelizmente, não ganhou.
Há algum aspecto que poderia ter sido trabalhado no filme mas não foi?
Difícil responder, todo filme pode trabalhar múltiplos aspectos.
Você acha que existe alguma questão subjetiva relacionada aos coelhos? Pois,
eles aparecem como representação dos filhos da rainha que morreram e no
final a última cena que vemos é repleta deles.
Acho que há diferentes interpretações possíveis para a cena final, não
só pelos coelhos mas também pela sobreposição de imagens. O mais legal, porém,
é cada espectador ter as suas próprias ideias sobre o que aquilo significa.
Viviane França e Vitória Berçot
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