Roma foi um dos filmes com mais indicações ao Oscar 2019, ao lado de A Favorita. Os dois longas receberam 10 indicações cada, incluindo Mel...

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Entrevista com Tatá Snow e Luciana Nascimento - Roma

Roma foi um dos filmes com mais indicações ao Oscar 2019, ao lado de A Favorita. Os dois longas receberam 10 indicações cada, incluindo Melhor Filme, Melhor diretor e Melhor atriz. 
O longa trata da história de Cleo, uma empregada doméstica que trabalha para uma família de classe média. Escrito e dirigido por Afonso Cuarón a obra ganhou visibilidade por sua contextualização, além de grande preocupação com questões técnicas como fotografia e sonoplastia, e também por ter como atriz principal Yalitza Aparicio, uma professora mexicana de origem indígena, que atuou pela primeira vez em um filme. No agregador de críticas Rotten Tomatoes, o filme tem 98% de aprovação.
Tatá Snow (colaboradora do site FreakPop) e Luciana Nascimento (colaboradora do site Cinéfilos Anônimos) falaram um pouco sobre o filme:

Qual foi sua primeira impressão sobre o filme Roma?
Luciana: Despertou meu interesse por conta da repercussão que teve, e principalmente, depois de ler em uma reportagem, que era uma declaração de amor do diretor à mulher que cuidou dele na infância. Achei um filme bonito, porém, aos que não apreciam filmes lentos e em preto e branco, pode não agradar tanto. A beleza do longa está nos detalhes, nos enquadramentos, na ausência de trilha sonora. É um filme para ser sentido e absorvido por completo. Pensei que poderia abordar com mais profundidade, a turbulência política vivida no México naquela época, mas isso passou meio batido. O filme explora mesmo, a relação patrão-funcionário, tendo como ponto focal a dedicação da doce Cleo nas tarefas da casa e no cuidado com os filhos da patroa.
Tatá:

Os filmes de Cuarón sempre tem grande repercussão e são indicados a prêmios, como é o caso de Gravidade e Y tu mamá también, mas nenhum ganhou tanto reconhecimento quanto Roma, o que você acha que Cuarón fez de diferente nesse filme para que chamasse tanta atenção?
Luciana: Creio que tenha sido a questão social que o filme aborda. Cleo é o coração da casa, mas sua presença passa desapercebida em muitos momentos. Apesar de sua patroa ser "boa" com ela em alguns momentos, como quando a chama para uma viagem à praia ou quando a ajuda a comprar móveis para o quarto do bebê que ela espera, ela não deixa de continuar sendo a empregada e ser tratada como tal. As minorias vêm ganhando força e visibilidade ultimamente, então, creio que tenha sido justamente por abordar esse tema, que o filme tenha tido uma repercussão maior que os anteriores.
Tatá:

O protagonismo feminino pode ter sido um fator para que a história se tornasse tão envolvente?
Luciana: Sim, sem dúvida. Retrata, novamente, a força da mulher (Cleo, no caso). Sua dupla, e até tripla jornada, a difícil decisão de criar um filho sozinha após ter sido abandonada pelo então namorado que não aceita a gravidez, a pobreza etc.. a patroa de Cleo, não merece tanto destaque - apesar de sofrer com a traição do marido - pois apesar de criar seus filhos sozinha, teve ajuda financeira do marido após a separação, coisa que a maioria das não possui.
Tatá:

O que você achou sobre a atuação de Yalitza Aparacio?
Luciana: Achei mediana. Sua interpretação é mediana, porém, merece destaque em duas cenas: 1) no hospital quando descobre que seu bebê nasceu prematuro e morto; 2) na sequência final, na qual desabafa com a patroa e seus filhos, que não queria aquele bebê. Essas duas cenas em especial, me emocionaram bastante, por conta da forte carga dramática.
Tatá:


Você acredita que a academia ter indicado pela primeira vez uma mulher de origem indígena ao Oscar de melhor atriz é de alguma forma um avanço social?
Luciana: Era sabido que Yalitza não ganharia, visto que tinha concorrentes de peso, como Glenn Close e Olivia Colman - que saiu vencedora - mas sim, foi um avanço. Porém minúsculo e que acabou perdendo o brilho, quando a Academia deixou de dar também a Roma, a estatueta de melhor filme - que ficou para Green Book -  além da de melhor filme estrangeiro. Ali, perdeu-se uma oportunidade ímpar, pois ao premiar um filme estrangeiro como melhor filme do ano, a Academia abriria um precedente jamais visto na história do cinema.
Tatá:



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