
“Os Incríveis 2” (2018), indicado ao Oscar em cinco categorias, entre elas “Melhor animação”, conserva a fórmula do primeiro longa, divertindo o público infantil e tocando em pontos delicados para os fãs mais velhos.
Helena Pêra, mais conhecida como Mulher-Elástica, e Roberto Pêra, o Senhor Incrível, trocam de funções. Ambos enfrentam desafios. Enquanto luta contra vilões, a heroína pensa o tempo inteiro na família. Já o Senhor Incrível encara as dificuldades da paternidade, como ajudar na lição de casa, lidar com as crises da adolescência e controlar os superpoderes recém-descobertos do caçula Zezé.
O filme aposta o tempo inteiro no protagonismo feminino. Além da Mulher-Elástica, conta com Violeta Pêra, Evelyn Deavor, que, junto de seu irmão Winston, é responsável pelo planejamento e execução da volta da estrela, além da icônica Edna Moda e a embaixadora Henrietta. Além disso, demonstra a importância de as mulheres inspirarem umas às outras, como no caso de Karina, a nova super-heroína Voyd. Helena Pêra mostra a ela e a outros super-heróis a importância de se aceitar verdadeiramente.
“Há poucas coisas mais heroicas no mundo do que ser pai quando faz direito”, diz Edna, na cena em que aconselha Beto Pêra, perdido em meio a tantas tarefas. O Senhor Incrível vê-se obrigado a encarar a realidade da qual fugiu por tanto tempo. No primeiro filme, sucumbe à possibilidade de voltar aos anos dourados de combate ao crime, mas, no início da continuação, tem dificuldades em aceitar os holofotes apontados à esposa.
Ao longo da animação, Roberto percebe que a sábia e irreverente Edna estava certa: ser um pai presente exige enfrentar desafios tão complicados quanto (ou mais) defender a sociedade daqueles que desejam instaurar o caos. Quando até mesmo o Senhor Incrível enfrenta dificuldades nos cuidados com a casa e os filhos, a animação prova que esse trabalho jamais pode ser desvalorizado. A experiência foi necessária para que o super-herói entendesse que não deveria competir com Helena, pois não precisava se envergonhar do destaque dado a ela.
A situação apresentada na animação ilustra algo que, infelizmente, está sempre presente em nosso cotidiano: a masculinidade frágil. Os homens são pressionados a se destacar em tudo. Em muitos casos, quando as companheiras trabalham e conquistam a independência financeira, se sentem frágeis e inferiorizados. Assim, apesar das mulheres, obviamente, serem as mais afetadas pela cultura machista, não são as únicas.
O empoderamento feminino também está presente na filha mais velha da família de heróis, Violeta. Ela vive a paixão por Toninho Rodrigues, enquanto lida com a mudança de rotina na família e o desejo de utilizar seus superpoderes. Depois de algumas crises, a jovem heroína amadurece e percebe que o mais importante é fazer o que ama.
“Os Incríveis 2” também desenvolve outras discussões, como as falhas da Justiça, a importância de lutar por aquilo que acreditamos e, principalmente, os meios que utilizamos para isso. Durante os 14 anos de espera pelo filme, aprimoramos nossa capacidade crítica, que nos permite enxergar a história de outra forma. Vale a pena assistir à continuação de uma das principais produções da Pixar.
Thábata Bauer
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