A série espanhola, que estreou no streaming da Netflix em 2017, foi produzida pelos diretores Gema R. Neira, Ramón Campos e Teresa Fernánd...

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Entrevista com Ana Beatriz de Souza - Las Chicas del Cable

A série espanhola, que estreou no streaming da Netflix em 2017, foi produzida pelos diretores Gema R. Neira, Ramón Campos e Teresa Fernández-Valdés e esse ano (2019) está previsto o lançamento da sua quarta temporada. O drama retrata a realidade das mulheres no ano de 1929 na Espanha e suas lutas para conseguirem os mesmos direitos que os homens e vencerem os tabus e preconceitos da época, como acontece com as personagens Alba, Àngeles, Carlota e Marga que almejam as vagas de telefonistas em uma empresa de telecomunicações em Madri.

A entrevista a seguir foi realizada com a Ana Beatriz de Souza, colaboradora do perfil “Séries em cena” do Instagram e redatora do portal “Série em cena”, os quais têm como propósito entreter e divulgar novos conteúdos da cultura pop, buscando a interação com o público.


Conte-me um pouco da sua experiência como crítica de séries. É sua profissão? Um hobbie? Ou os dois?


Eu comecei a escrever sobre séries em 2017, mais como um hobbie e para treinar minha escrita desse tipo de texto. Mas hoje vejo como um caminho que posso seguir profissionalmente, acho que trabalhar com aquilo que te dá prazer em realizar e em que você se sente confortável é muito importante.


Comparando épocas passadas com épocas atuais, você diria que a participação das mulheres nas séries aumentou?

Diria que não aumentou apenas a participação, mas também o protagonismo dela. Acho que o público também está mais aberto a aceitar esse tipo de série. Por exemplo, quando Sex and the City foi lançada, apesar do sucesso, ela ficou muito restrita ao apelo do público feminino. A maior variedade nos perfis das protagonistas também é um diferencial dos últimos anos.


A série As Telefonistas aborda assuntos que muitas vezes é realidade para mulheres da vida real como agressão doméstica, submissão ao marido, luta para trabalhar fora de casa, repreensão pela sua liberdade de expressão, entre outros. Você acredita ser importante as séries atuais abordarem assuntos como o empoderamento feminino?
Acho muito importante, não só para mulheres adultas mas também como uma mensagem para as próximas gerações. As telefonistas vejo como um grande exemplo de que a luta das mulheres é constante e sempre foi dura, mas elas também sempre lutaram pelo seu espaço na sociedade, independente da época.


Ainda hoje, é comum ver mulheres em cena atuando como mães, donas de casa, submissas aos homens etc. Qual a relevância dos papéis do quarteto, Alba, Àngeles, Carlota e Marga, na série para a sociedade hoje em dia? 

Acho que a maior relevância dessas personagens é que todas passam por seus próprios problemas, mas nunca se afastaram do fato de serem mulheres e têm orgulho disso, por mais diferente que cada uma lide com isso. Elas também têm filhos, relacionamentos, pessoas por quem zelar, mas isso não tira o protagonismo delas em sua própria história.


Ao longo da série, é evidente que os laços de amizade do quinteto se fortificaram. Na sua opinião seria uma representação do que chamamos hoje de sororidade?

Sim, por mais que por vezes alguma acabe não concordando com a decisão da outra, elas se respeitam como indivíduos independentes e, ainda assim, conseguem aconselhar umas às outras sem serem impositivas. Acho que a sororidade passa por esse caminho.


Na sua percepção, qual o segredo por trás do sucesso da série?

Acho que o fato de apesar serem todas mulheres, cada uma vive sua identidade de uma maneira diferente, sem que uma esteja certa e outra errada. A série não tenta fingir que há um mundo sem homens, mas aqui eles não se sobrepõem sobre as personagens femininas, principalmente, pela força de cada uma e como um grupo.


De maneira geral, quais são os pontos fortes da série? Deixou alguma coisa a desejar?
Como pontos fortes poderia citar a tentativa bem sucedida de tentar transportar o espectador para uma época que já foi mostrada em muitas produções, mas dessa vez trazendo mulheres que não só viram, mas que também participaram ativamente de mudanças sociais. Ser uma série em espanhol também é um diferencial para nos mostrar outros modos narrativos além do norte-americano.

A série também trata de relacionamentos como muitas outras, mas aqui eles são pontos de partida para discussões importantes, como violência contra a mulher, exploração, indecência e identidade de gênero.

Acho que ela deixou a desejar quando algumas vezes colocou algumas discussões de lado para terminar certos capítulos da história meramente com um drama.



Daqui a alguns anos como você imagina que serão as próximas produções de séries em relação à participação de mulheres nas cenas e a abordagem de assuntos como o empoderamento feminino?

Acho que as produções começarão realmente a se empenhar a discutir a legitimidade e importância do empoderamento feminino e não, apenas, a colocá-lo nas produções como modo de atrair audiência. Para mim, As telefonistas é um grande instrumento para chamar atenção para as mudanças sociais. Eu assisto a série com minha irmã e minha mãe e ela nos proporcionou discussões e reflexões sobre nossa identidade e sororidade com a situação de outras mulheres que levam sua vida de forma diferente, mas não menos autênticas e relevantes.



Julia Machado da Silva

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